27 de novembro de 2012

Cobrar para cantar?



Motivo de acirrados debates e até de ofensas tem sido, em alguns setores da Igreja, o fato de cantores da fé pedirem o que consideram justa retribuição pelo seu serviço. Sacerdotes recebem, diáconos recebem, médicos e servidores do povo recebem. O operário é digno do seu sustento. (Mt 10,10) Também os cantores da fé.
 
O debate é mais quanto ao preço do que quanto à retribuição. Há quem ache exagerado determinado preço de show ou apresentação, certamente por achar que aquela pessoa ou aquele grupo não vale o preço que pediu. Podem ter razão e podem estar sendo injustos. Se os cantores se oferecem, não poderão nunca estipular preço fixo. Terão que negociar, posto que estão procurando trabalho para, com isso, ter o suficiente para manter seu serviço. Se não pediram e têm sua agenda, parece justo que levem em consideração o fato de haverem deixado alguma atividade ou outro serviço, para ir lá onde foram solicitados.
 
Há duas palavras que podem ser verdadeiras: caro e exorbitante. Talvez pelo que oferecemos estejamos cobrando preço muito caro ou até exorbitante. Talvez estejamos nos supervalorizando em alguns casos. Mas há os que sabem muito bem o quanto custa manter as obras que mantêm e o quanto, para o seu grupo, seria justo receber. Para isso existe diálogo e negociação. Há cantores mais experimentados com bagagem cultural maior e com mais o que dizer e cantar. Se alguém os quer terá que levar em conta seu histórico de cansaço e de saúde, o tipo de obra que mantém, o tempo de estudo, de trabalho e de serviço, a idade, o cansaço, os muitos anos de serviço e para onde iria a quantia que pediu. O tempo costuma dar as respostas que os opositores solicitam. Onde moram? Como moram? A quem ajudam? O que possuem? Como servem? Cobram antes? Aceitam receber depois? Precisam de adiantamento? De quanto? São flexíveis na negociação? Estão lá para servir? É serviço ou auto-promoção?
 
Cada pessoa é uma pessoa e cada grupo é um grupo. Acusar todos os cantores de estarem fazendo comércio com sua voz e de não servirem a Deus é atitude pouco fraterna e até cruel. Seria o mesmo que acusar todos os contratantes de quererem a ajuda de um grupo mais experiente e explorá-los. Há o contratante que, ao sentir o resultado da pregação cantada, paga até mais do que o solicitado. Há o que promete pagar depois e nunca paga. Há o que, mesmo avisado com clareza sobre o que é contratar um show, diz que vai correr o risco, mas quando o povo não comparece, joga todo o prejuízo em quem veio cantar. Ele não perde! Põe a culpa no grupo de cantores e não na sua previsão errada,.ou falta de divulgação. Se é preciso talento para cantar também o é para divulgar.
 
Quem acha que é fácil montar um grupo de canto e pregação, não tem a menor idéia do que significam os ensaios, o cansaço, as críticas, a competição, o puxar de tapetes e as indiretas que se ouve, quando quem veio ver ou contratou já tem seus ídolos e seu jeito de ser católico. É impressionante como se ofendem caso o grupo tenha mais aplausos, mais espaço e mais sucesso do que o seu grupo eleito e preferido. Vale a pena ler os e-mails destes fãs que vieram para provar que seu grupo era melhor. Quem chama deveria saber como pensa, como prega e como canta o grupo convidado. Há tantos para escolher…Não chame qualquer um nem aceite qualquer proposta. Mas não nivele, porque isso também é injusto. Vinte anos de serviço não são seis meses!
 
Talvez seja hora de a Igreja repensar este serviço. Talvez fosse o caso de os bispos investirem com o ofício de cantor-pregador, como se investe em ministros extraordinários da comunhão. Se há o ministério extra-ordinário da pregação também se pode pensar no da canção que nem todos conseguem executar a contento. Seria por um ano, e depois, por mais tempo, a depender do que cantam, do que pregam do que precisam para viver. É um trabalho exigente e todos deveriam mostrar que sabem fazer da canção católica um serviço á catequese. Remuneração? Questão de diálogo e de justiça. Alguns grupos possuem um folheto explicando tudo sobre seu trabalho. Que seja lido. Se não der, não contratem. Se acharem que podem, chamem, mas valorizem. Não é um passeio agradável e fácil, nem é divertido. Exige imenso grau de paciência e de renúncia. Tentem por um ano e verão porque alguns grupos pedem mais do que vocês gostariam de pagar! Semanas e meses longe de casa, anos a fio, tudo por causa da Igreja, machucam muitos cantores. Se os querem na sua comunidade, valorizem sua família e seu trabalho. Vão ficar surpresos, alguns deles têm pai, mãe, irmãos e filhos doentes. Conheça a história de cada um e só então opinem. Estamos conversados, ou cada grupo terá que explicar a cada novo dia e a cada viagem porque acham que seu serviço vale o que pedem?



Pe. Zezinho scj

Fonte: http://www.padrezezinhoscj.com/


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