18 de junho de 2010

Apócrifos, um cristianismo escondido?

ALESSANDRO LIMA
Introdução

Os livros apócrifos são livros que a Igreja Católica rejeitou ao determinar o cânon bíblico, isto é, ao definir quais livros fariam ou não parte da Bíblia, processo este que durou pelo menos 5 séculos.

Alguns teólogos "católicos" têm publicado obras sobre estes livros, afirmando haver neles um cristianismo autêntico que a Igreja Católica resolveu esconder das pessoas. Mais lamentável que esta resolução de alguns filhos da Igreja, é o apoio que eles têm de editoras ditas "católicas" que editam suas obras.

Nosso artigo não pretende atacar tais teólogos, mas sim o erro que propagam, por isso não lhes daremos a honra de serem citados em um dos nossos artigos.

Nosso artigo, procurará mostrar o erro que existe no trabalho destas pessoas.

Há alguma verdade nos escritos apócrifos?

Sim, há. Escritos apócrifos como o proto Evangelho de Tiago, a Didaqué e a Carta de Barnabé, têm em seu conteúdo doutrinas verdadeiras, transcritas da Tradição Apostólica. A Tradição Apostólica é a doutrina que os Apóstolos ensinaram e que foi transmitida oralmente aos primeiros cristãos.

A Tradição Apostólica deu origem aos livros que hoje compõem o Novo Testamento e também deu origem a alguns livros que não entraram no catálogo bíblico, por não serem considerados inspirados por Deus.

Podemos confiar nos escritos apócrifos?

Podemos confiar à medida que seu conteúdo se harmoniza com a Tradição recebida dos apóstolos.

No entanto, nem todo livro apócrifo teve origem na Tradição Apostólica. Conforme veremos a seguir, à medida que suscitavam as heresias no seio da Igreja, estas heresias davam origem á doutrinas heterodoxas (ortodoxas misturadas com heresia), que por sua vez deram origem a muitos livros apócrifos.

Um exemplo disto é o Evangelho segundo Pedro. Este evangelho surgiu em meados do séc II, pela cercania da cidade de Antioquia. Nesta época Serapião, era Bispo desta cidade. Este sucessor do Bispo Inácio de Antioquia (discípulo do Apóstolo Paulo), conhecedor e guardião fiel do depósito da fé, escreve uma obra combatendo o uso deste evangelho.

O Bispo Eusébio de Cesaréia (historiador da Igreja, séc IV), em sua obra "A Historia Eclesiástica" faz referência a este fato:

"mais uma obra, composta por ele [Serapião]: Sobre o evangelho dito segundo Pedro, para refutar as mentiras contidas neste evangelho, em vista de determinados fiéis da comunidade de Rossos, que baseando-se nessa pretensa Escritura, haviam-se desgarrado por doutrinas heterodoxas." (HE VI, 12,2)

Transcreveremos o trecho desta obra transcrito pelo Bispo Eusébio:

"Efetivamente, nós, irmãos, acolhemos Pedro, e aos outros Apóstolos como se fossem o próprio Cristo; mas enquanto homens experientes, cônscios de nada de semelhante termos recebido, rejeitamos os pseudo-epígrafos, com estes nomes.

Eu também, quando ao vosso lado, supunha que estáveis todos apegados à fé verdadeira, e sem ter lido o evangelho apresentado por eles sob o nome de Pedro, eu dizia: Se for somente isso que vos parece contrário, pode ser lido. Mas agora soube que dissimulava certo sendo herético; ao menos assim me foi comunicado. Voltarei, portanto, depressa para junto de vós. Por isso, irmãos, aguardem-me dentro em breve.

Nós, porém, irmãos, tendo sabido que a heresia pertencia a Marcião, o qual se contradiz a si mesmo, desconhecendo o que afirma conforme podeis verificar por aquilo que vos foi escrito, pudemos efetivamente, por meio de outros adeptos deste evangelho [segundo Pedro], isto é, os sucessores de seus primeiros introdutores ? que denominamos docetas, pois a maioria de suas idéias pertence a esta doutrina ? pudemos, digo, por este meio, obter de empréstimo o livro, percorrê-lo e encontrar ali, junto da verdadeira doutrina do Salvador, alguns acréscimos, que submetemos a vosso juízo" (HE VI, 12,3-6)

Vimos então, que o tal pretenso Evangelho de Pedro, nada mais foi que um produto da heresia Marcionita ou doceta, oriundo de meados do séc II.

O que os antigos dizem sobre os apócrifos?

A Igreja Católica viu a necessidade de formar um catálogo bíblico (definir a lista de livros que poderiam ser considerados divinos e seguros) à medida que pretensos escritos atribuídos aos apóstolos foram surgindo e foram sendo adotados pelos cristãos. Como as heresias não surgiram de uma só vez, isso explica porque a Bíblia demorou séculos para surgir.

Vejamos outros testemunhos dos sucessores dos apóstolos sobre os escritos apócrifos:

Sobre os apócrifos de Pedro

"Com efeito, de Pedro apenas uma carta, classificada como primeira, é reconhecida por autêntica e os próprios antigos presbíteros utilizaram-na, citando em seus escritos como genuína. Quanto àquela enumerada como segunda, tivemos notícia de que não é testamentária, todavia muitos a consideravam útil e foi tomada em consideração com as demais Escrituras.

Relativamente aos Atos que trazem seu nome, ao Evangelho dito segundo Pedro, ao Kerygma e ao suposto Apocalipse de Pedro, sabemos que não foram de modo algum transmitidos entre os escritos católicos e que nenhum escritor eclesiástico, nem dentre os antigos, nem dos atuais, utilizou testemunhos destas obras" (HE III,3,1-2)

Sobre os apócrifos atribuídos aos demais apóstolos

"Achamos necessário fazer igualmente o catálogo dessas últimas obras, separando-as das Escrituras que segundo a tradição da Igreja, são verdadeiras, autênticas e reconhecidas, dos livros que, ao invés, não são testamentários, mas contestados, apesar de serem conhecidos pela maior parte dos escritores eclesiásticos. Assim, poderemos conhecer esses livros e os que, entre os hereges, são apresentados sob o nome dos apóstolos, que se trate dos Evangelhos de Pedro, de Tomé, de Matias, ou dos Atos de André, de João e dos outros apóstolos. Jamais entre os escritores eclesiásticos que se sucederam, houve quem julgasse conveniente relembrá-los.

Aliás, o estilo se aparta do costumeiro modo de falar dos apóstolos; o pensamento e a doutrina que encerra acham-se quanto possível em contraste com a verdadeira ortodoxia. Prova evidente de que esses livros são produtos heréticos. Em conseqüência, não merecem nem mesmo ser colocados entre os apócrifos, mas sejam rejeitados como inteiramente absurdos e ímpios." (HE III,25,6-7)

Conclusão

Vemos aqui, que a Igreja fiel guardiã do depósito da fé que recebeu dos apóstolos, através do Magistério dos legítimos sucessores dos Apóstolos, sempre procurou preservar os cristãos do erro e da mentira.

Nosso Senhor Jesus Cristo, prometeu infabilidade (cf. Mt 16,18-19) e auxílio à Sua Igreja até o final dos tempos (cf. Mt 20,28). E a história mostra, através do testemunho dos antigos bispos e presbíteros, que Ela sempre foi porto seguro para todo aquele que deseja conhecer a Verdade (cf. 1Tm 3,15).

Os pretensos teólogos da doutrina apócrifa, ditos ?católicos?, sem obediência à Santa Igreja, acabam cometendo o erro de seus predecessores; que no dizer do Bispo Eusébio de Caséria (séc IV): "baseando-se nessa pretensa Escritura, haviam-se desgarrado por doutrinas heterodoxas."

FONTE:http://www.veritatis.com.br/apologetica/solascriptura/580-apocrifos-um-cristiansimo-escondido

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